poema de rosângela trajano

era uma vez um menino

que gostava de estrelas

pedras, pontes e demônios

coisas que o faziam rir

esquecer da dor de descobrir

que no seu registro civil

não havia o nome do pai

foi contar isso aos gerânios

eles não simpatizaram nadinha

foi contar isso às lavadeiras

elas não aceitaram a notícia

o menino saiu por aí à procura

do seu daimon, do seu eu

já que não tinha o nome de um pai

melhor ter felicidade

o guarda de polícia

perguntou para onde ele ia

sozinho e descalço

eu vou atrás de Nietzsche

para ser humano demasiado humano

ou quem sabe de Sartre

talvez eu seja um nada

que importa ser menino sabido

se meu pai é desconhecido

quero é tomar café com Aristóteles

e descobrir onde achar a felicidade

mesmo com a minha pouca idade

***********************
Nos primeiros sete meses de 2022, mais de 100 mil crianças nascidas no Brasil foram registradas sem o nome do pai. Os dados são do Portal da Transparência de Registro Civil no Brasil, administrado pela Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais.Rosângela Trajano