aquela flor pretinha

caminha não sei para onde

foge do preconceito

foge do racismo

está perturbada e doída

caminha à toa, à toa

o porco espinho a encontrou

estava de boa, de boa

deu para ela um sorriso

para quem nunca recebeu nada a flor se encantou

sentou-se no chão

com ele conversou

a dor maior não está no coração

mora na alma onde navega um tubarão desdentado

meio assustado

tem gente que discrimina

flores pretinhas sozinhas

a dor muito nos ensina

Rosângela Trajano