Como esquecer o que não houve

A chuva que não caiu

O urso de pelúcia que não virou gente

A casa que não saiu do lugar

Como esquecer o que não houve

Do riso que não se desfez

Do bicho que não fez medo

Da lua que não brilhou

Como esquecer o que não houve

Se estou dentro de um mundo

Onde as pessoas grandes

Fingem que me escutam

Quando pergunto três ou quatro vezes

Há incômodos… criança incomoda

Como esquecer o que não houve

O relógio parou às 6 da manhã

E o gato não subiu no telhado hoje

Eu preciso esquecer o que não houve

Ser a menina dos dentinhos claros

Que tem incertezas penduradas nos pés

Por isso ando descalça na última esquina do outono

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Rosângela Trajano