Eu tenho cachinhos de anjos

para te oferecer, menininha

Num sorriso meio tímido

Ser um pouquinho de ti

Carregar água do poço

Pendurar-me numa estrela

Virar cuidado de senhor

sem casinha para morar

Sem óculos para enxergar

que gatinho está a chorar

Serei cuidado em terra seca

para o agricultor poder sonhar

A arte de te imitar, menininha vou pintar na noite anciã sem ossos

E quando os teus pezinhos cansarem muito de andar

Cuidarei de te levar no bolso da camisa sem botões

A vida da gente é um gritinho despido que logo passa no tempo do não passar

Ah, doce menininha dos olhinhos azuis

Trago neste cesto três pãezinhos quentes para comeres pastoreando as tuas ovelhas

O teu cabelo caiu dentro do rio e pude nele pescar peixinhos

Cuidarei da finitude do belo e enquanto Heráclito espera o contrário eu ando atrás dos teus iguais

É possível conhecer outros mundos quando se sonha junto

Tenho em mim você e à parte isso tenho o nada

Sou a linha reta no caminho do homem virtuoso

Cuide bem desse sol rasgado ao meio, pois um guizo roubou seus anéis