Rosângela Trajano

Ela sorria ao vento

Largava os braços no tempo

Nunca existiu… nunca morreu

Como pode? Como pode?

Ser tão bela sem existir

Pois é… a gente inventa

Do nada é possível criar

Uma menininha barriguda

Nariguda e orelhuda

Tudo bem grande nela

Pra gente saber que às vezes

Crianças existem no nada

Que é o mais tudo da infância

Inquietude de pensamento

Que busca uma menininha

Pintada em tela de aquarela

Bordada em toalha amarela

Esquecida na favela

E eu que bem sei cuidar

De menininhas do nada

Tenho em mim muitas delas

Chorando flores mortas

Onde só chegam os sois

Quando não há mais céus

Uma menininha do nada

Também se joga pelo chão

Faz birra no canto do salão

Reside no meu pedaço de mar

Em navio de guerra sem canhão