Pelo fim da violência contra a mulher

Rosângela Trajano

A mulher ainda sofre bastante com a violência contra a sua pessoa dentro e fora de casa. Apesar das várias leis e penalidades que foram instituídas no nosso país nos últimos anos, a violência não para de crescer. Violência de todos os lados e tipos. A mulher, que deveria os seus direitos de ir e vir assegurados, está sendo submetida cada vez mais à violência desenfreada. Outro dia, em conversa com um bom amigo, ele me disse mais ou menos assim “para uma mulher, apenas carinho e amor”. Verdade essa premissa do meu amigo, porém, a maioria dos homens infelizmente não pensa como ele.

Ainda vemos muitas mulheres serem violentadas dentro das suas próprias casas, pelos próprios companheiros. As delegacias estão cheias de boletins de mulheres que foram vítimas de espancamentos, violência que se desencadeia em números alarmantes. Esses boletins aumentam quando a mulher é pobre, negra e analfabeta. Muitas vezes os seus companheiros chegam em casa bêbados e, sem motivo algum, as espancam. Já vi mulher com o nariz quebrado, olho roxo, braço quebrado, manchas espalhadas pelos corpos vítimas de espancamento doméstico. As vítimas quase nunca denunciam, pois têm medo de sofrerem represálias, o pior: não saem de casa e continuam a compartilharem da mesma cama dos companheiros. É um quadro triste a violência contra a mulher. Falo de todos os tipos de violência.

A mulher tem o direito de andar na rua do jeito que quiser: shortinho e blusas curtas, usar tatuagem ou saia curtinha e ser respeitada do mesmo jeito que os homens são respeitados quando andam sem camisa, mostrando os fortes músculos pelas avenidas das cidades. Nada deve acontecer a mulher que usa um shortinho curto. É abominável ouvir alguém dizer que uma mulher foi estuprada porque as suas vestimentas induziram o agressor. Nenhuma mulher deve ser estuprada, seja ela quem for, faça o que fizer, vista o que quiser. A mulher é dona do seu corpo e pode fazer dele o que desejar, ninguém tem o direito de mandar no seu corpo. O número de estupros também dobrou nos últimos anos, e falo até mesmo da mulher que é forçada pelo parceiro à prática do sexo quando ela não sente vontade. Conheço mulheres que já foram vítimas dessa violência. É uma triste realidade a que vivemos nos dias atuais da luta da mulher contra a violência desenfreada que traumatiza e causa pânico. Há o medo de ser mulher desabrochando novamente na sociedade.

Outra violência crescente são as letras de algumas músicas que apelam para o uso do corpo da mulher como se fosse um objeto ou coisa qualquer e falam dele com palavras horríveis, fazendo apelo ao estupro e à prática do sexo inseguro para a mulher. Muitas mulheres inocentemente ouvem essas músicas sem nem se tocarem do quanto são vítimas dos seus autores. Elas não percebem a agressividade nas letras das músicas. Outro dia visitei uma amiga que é levada a escutar músicas desse tipo porque a sua vizinha, que é uma jovem, ainda, gosta de ouvi-las em som alto. São músicas apelativas, que deformam o corpo da mulher, que abusam do seu corpo, que faltam com o respeito ao corpo feminino e aos direitos da mulher.

Uma mulher pobre ou rica carrega na alma as diversas histórias de submissão das mulheres da Antiguidade, que viveram todo tipo de violência sem reclamarem os seus direitos. A antiga ilustração do homem das cavernas que puxa a mulher pelos fios de cabelos com um pedaço de pau na outra mão é a típica violência doméstica dos primórdios da civilização.

Atualmente, temos visto as mulheres, ainda tímidas, erguerem as bandeiras de lutas e procurarem um lugar no mercado onde antes predominavam os homens, tais como: as diversas engenharias, arquitetura, ciências e chefes de países. Algumas continuam sendo vítimas de discriminação no trabalho, onde desempenham as mesmas atividades dos homens e ganham sempre salários mais baixos. Uma violência silenciosa que ocorre na maioria das grandes empresas.

Precisamos de leis mais severas para punir aqueles que que continuam infringindo os direitos das mulheres. A Lei Maria da Penha foi um avanço, mas tem mostrado que ainda é pouco para reduzir a violência contra a mulher num país onde a desigualdade social é enorme. No entanto, mulheres de todas as classes sociais continuam sendo vítimas brutalmente da violência doméstica. Não é somente a mulher pobre e negra que é espancada e tem medo de denunciar, mas todas as mulheres. Alguma são ameaçadas pelos seus companheiros e se calam, outras têm medo de serem expostas em público e, ainda, há aquelas que temem serem desacreditadas pelas influências na sociedade dos seus maridos.

Enfim, a mulher que, apesar de tudo, tem mostrado a sua força precisa mais do que nunca de um olhar dos governantes e autoridades para a sua proteção e um basta nessa violência.