O vovô que contava histórias de princesas para sua netinha na guerra

Rosângela Trajano

Era uma cidade pequena num país também pequeno. Lá moravam uma menina e os seus avós.

O país estava em guerra. Muito barulho de bombas, tiros de metralhadoras, sirenes de ambulâncias, gente chorando e gritando em pânico pelas ruas.

A menina ouvia aquilo com muito medo. O medo nas crianças causa traumas e consequências graves para a vida adulta.

Os avós da menina estavam muito preocupados com ela. Sabiam que precisavam fazer alguma coisa para que esquecesse daquela guerra horrível. Qual guerra não é horrível?

Então, o vovô passou a contar histórias de princesas e dragões o dia inteiro para a menina. Sentados confortavelmente no sofá da sala de visitas o vovô inventou um milhão de histórias onde a princesa sempre se salvava dos perigos da gente maldosa.

Sempre no meio de uma ou outra história a menina e o vovô ouviam o barulho de uma bomba ou a sirene de uma ambulância e ela se juntava mais ao ele demonstrando medo.

O vovô viveu uma guerra e sabia bem como era horrível o que ela fazia com as pessoas. Ele foi soldado na Segunda Grande Guerra Mundial, por essa razão também sentia medo igual a sua netinha.

As histórias que o vovô contava eram as mais bonitas do mundo. A menina, por alguns instantes, esquecia dos horrores da guerra. Ficava silenciosa, quietinha, só o coraçãozinho fazia tic, tac, tic, tac… e mais nada… para ouvir aquelas histórias bonitas de princesas e dragões.

Tinha princesas de todos os jeitos, as que gostavam de dançar, as que gostavam de estudar, as que gostavam da natureza e as que gostavam de bichos. Eram muitas as princesas que o vovô conhecia. A menina gostava mais de uma que tinha um dragãozinho que sempre a salvava de uma madrasta muito maldosa. Essa era a sua história preferida. Não se cansava de ouvir. O vovô já tinha contada dezenas de vezes.

Quando o vovô terminava de contar a história da princesa que criava um dragãozinho, a menina já estava pronta para pedir-lhe para contar de novo. O vovô ria e contava tudo de novo sem reclamar.

De tanto ouvir as histórias de princesas, a menina quis se tornar uma delas. E quando a guerra acabasse o vovô daria um jeito de fazer dela uma princesa boazinha e com um dragão para protegê-la de toda maldade, até mesmo se houvesse outra guerra, coisa que ela não queria nunca mais.

A vovó também passou a ouvir as histórias do vovô junto com a menina. E aquilo passou a ser a distração da família. Ouvir histórias fazia esquecer tudo lá fora. Fazia esquecer que tinha soldados andando pelas ruas e gente morrendo ali perto.

A coisa que a menina mais achava engraçada era quando o vovô lhe contava histórias de princesas para dormir. Deitado ao seu lado na sua pequena cama, metade das pernas do vovô ficavam de fora porque ele era grandão, parecia um gigante. E nunca conseguia terminar de contar uma história porque adormecia deixando os seus óculos caírem na barriga da menina.

Naquelas histórias de princesas e dragões a menina aprendeu uma coisa que ela nunca esqueceu em sua vida: do final feliz para sempre. As princesas depois de enfrentarem muitos perigos acabavam felizes nos seus castelos. E para a sua princesa preferida que sofria muita maldade o vovô todas às vezes que repetia a história fazia um final feliz diferente para ela. Isso dava encanto a história que a menina não se cansava de ouvir.

Todos ali acreditavam que a guerra logo acabaria e que tudo terminaria bem. A menina só conseguia dormir quando o vovô contava o final feliz de uma história mesmo que ele contasse apenas o final já estava bom demais para ela.

Nos seus sonhos ela sempre era uma princesa com um dragãozinho num lugar cheio de árvores, duendes, gnomos e fadinhas. Chorava quando acordava e descobria que era só um sonho. Mais um sonho bonito.

Porém, o vovô e a vovó diziam sempre que os sonhos se tornam realidade. E ela acreditava em construir um castelo bem no meio da sua cidade com um quarto bem grande para o seu dragãozinho poder brincar e dormir sempre que quisesse. Isso tudo quando a guerra acabasse. Vai acabar logo, pensava a menina coçando os olhinhos ainda sonolenta quando o sol começava a entrar pela janela do seu quarto.

Exercícios para o bom pensar.

1 – O que podemos fazer para esquecer um momento triste que estamos vivendo?

2 – Por que a contação de histórias muitas vezes nos ajuda a esquecermos dificuldades?

3 – Você gosta de ouvir histórias? Por quê?

4 – O que uma história pode mudar na vida de uma criança? Explique.

5 – Que história você contaria para alguém que perdeu uma pessoa querida? Por quê?

6 – Por que o final feliz de uma história nos traz esperança?

Desenhe você contando uma história em meio a um momento difícil.