Era uma vez o Papai Noel mais feliz do mundo! O Papai Noel de verdade que eu descobri depois de passar um tempo tristonha. A gente fique triste com as ingratidões e as incompreensões das pessoas que mais amamos, mas isso é outra história. Quero falar da vida do Papai Noel de verdade. Ele acordava cedinho, fazia ginástica e ia para a sua fábrica de brinquedos onde podia ler as cartinhas das crianças, com cuidado. Eram tantos pedidos. Pedidos os mais diversos. Tinha gente grande que escrevia para ele também. Uma gente cheia de problemas. Tinha dias que Papai Noel só fazia ler as cartinhas. Eram muitas, centenas, milhares. Depois de tanto tempo lendo precisou usar óculos com grau forte.

Quando tinha tempo, depois de ler as cartinhas, o Papai Noel costumava cuidar das suas galinhas, patos e cabras. Ele também tinha quarenta e oitos gatos e trinta e três cachorros a quem alimentava e dava banho quase todos os dias. A vida de Papai Noel não era nada fácil naquela casinha pequenina onde ele mal podia se mexer porque espaçosa mesmo era a sua fábrica de brinquedos.

De tempos em tempos, Papai Noel gostava de tomar banho de rio e de pegar sol vestido com o seu calção vermelho e deixando à mostra o seu grande barrigão. Sim, ele sabia que precisava emagrecer, mas tinha receio de que as crianças não o reconhecessem. É triste quando não se é reconhecido por quem tanto amamos. E quando lembrava das crianças enchia os olhos de lágrimas porque muitas delas faziam pedidos tão incríveis, tão maravilhosos, tão esplêndidos que ele passava os trezentos e sessenta e cinco dias do ano pensando em como realizá-los. Só para vocês terem uma ideia teve uma vez que o Papai Noel recebeu uma cartinha de uma menina indígena que pedia para Papai Noel expulsar todos os garimpeiros da sua tribo. Ele ficou imaginando durante todo o tempo em como fazer aquilo e teve que recorrer aos seus ajudantes que também não tiveram respostas. Então, Papai Noel recorreu aos homens bons do lugar da menina e eles disseram que aquilo era um problema muito sério, mas que iriam resolver. E todos os anos, a menina mandava cartinha para o Papai Noel fazendo o mesmo pedido. Os homens bons não conseguiram dar um jeito nos garimpeiros, ao contrário eles se multiplicaram. E Papai Noel passou dias chorando porque sabia que havia uma menina tristonha à espera de uma resposta sua em forma de presente. Não era fácil realizar pedidos. Viver não é fácil. Ser um Papai Noel também exige muita prudência, sabedoria, tolerância e resiliência.

Não devemos deixar para amanhã o que podemos fazer no dia de hoje, pensava Papai Noel que acordava às quatro da manhã com o canto dos pássaros à sua janela. Só saía da cama depois que escrevia um poema. Só saía da cama depois que fazia um desenho. Só saía da cama depois que conversasse um pouco com Deus. Sim, ele e Deus eram muito amigos isso porque Deus é amigo de toda gente boa.

Papai Noel era quem fazia a sua comida e gostava de tomar café forte com pão e melancia. Também gostava de comer feijão com arroz. E à noite tomava sopa de legumes. Era ele quem lavava e passava as suas roupas. Quem as costurava com agulhas de mão. Os seus ajudantes viviam o tempo todo na fábrica de brinquedos. Quando aprendems a cuidar de nós descobrimos coisas lindas sobre a gente. Cuidar é algo muito complicado, mas bonito. Nem todo mundo sabe cuidar de verdade uns dos outros. Algumas pessoas pensam que cuidam, outras dizem que cuidam, mas na verdade cuidar é o mesmo que amar e amar é uma coisa muito esquecida nos tempos de hoje. Papai Noel cuidava de si porque também se amava e precisava estar saudável para atender a todos os pedidos que chegavam de todas as partes do mundo.

Às vezes, Papai Noel esquecia o arroz no fogo e ele queimava ou a roupa no varal e vinha a chuva e a molhava toda. Coisas de quem tem muitas preocupações. Só não esquecia da hora de alimentar os seus bichinhos. Ele cuidava bem dos seus animais. E sempre que estava cuidando deles lembrava do dia em que uma menina pediu um dinossauro de presente, teve que ir buscar um lá no início do mundo e levou para ela. Não foi fácil viajar no tempo, mas foi uma aventura legal.

Pois bem, agora que vocês conhecem um pouco da rotina do Papai Noel peço que tenham paciência quando ele se atrasar na noite de Natal, pois os seus compromissos são muitos. Ele não esquece de nenhuma criança. Nenhuma mesmo. E de nenhum adulto também. Só é meio desajeitado com adultos porque alguns já o machucaram bastante dizendo que ele não existe. Será que alguma criança acredita nessa bobagem de que Papai Noel não existe? Isso é coisa de adulto invejoso que com três mil, setecentos e cinquenta e quatro anos não consegue pular muros e chaminés. E assim Papai Noel pede para vocês continuarem acreditando nele mesmo que os adultos digam que isso é tolice, bobagem, que Papai Noel de verdade não existe, pois lá longe ele mora e vai receber e ler a sua cartinha em breve. É só ser paciente, pois o exercício da paciência se torna sabedoria. Feliz Natal!