A menina que teve a sua casa bombardeada pela guerra

Rosângela Trajano

Era final de tarde e o sol já começava a descer por entre as montanhas.

A menina voltava da escola cantarolando uma canção para espantar o medo daquela guerra horrível. Aliás, toda guerra é horrível seja no seu país ou no de outra pessoa.

A escola ia fechar a qualquer momento, pois a professora não se sentia segura lá dentro com os seus alunos. Era só uma questão de tempo. Havia dois soldados na porta da escola, mesmo assim era perigoso.

Entrou na rua da sua casa onde não restava mais quase nada. As outras casas foram todas ao chão depois dos bombardeios do último domingo. Só havia escombros e gente procurando alguma coisa que pudesse servir para algo, ainda.

De repente, um avião começou a sobrevoar a sua rua. Foi avisada pelo papai e mamãe para sempre se proteger quando visse um avião e correu para detrás do resto do que sobrou de um muro onde ela costumava pichar com grafite alguns desenhos de casa, sol, bola e navio.

Seu coraçãozinho assustado, seu corpo trêmulo, suas mãozinhas pequeninas segurando a cabeça e um choro que ela não sabe de onde veio tomou conta dela ao ver o avião bombardear a sua casinha bela com todos os seus familiares dentro dela, seu gato e o seu cachorro.

A menina nem podia acreditar no que estava vendo. Era muito triste para ser verdadeiro. Parecia uma daquelas histórias de terror que o seu tio costumava contar para assustá-la quando ela estava de birra.

Ela olhava espantada e incrédula a casa destruída, a fumaça subindo e a árvore de frente a ela queimando.

Não tinha forças para sair do lugar. Quis se aproximar, mas as perninhas se negaram a andar. De longe via o que restou da sua casinha, seus pais, seu gato e seu cachorro todos mortos pela bomba de uma guerra que ela não conseguia entender por que matava gente que não tinha nada a ver com aquilo. A guerra matou tudo o que ela tinha. Ficou sozinha no mundo naquele instante desesperador.

Depois de um tempo, conseguiu andar e se aproximou dos escombros da sua casinha. Restava apenas um pedaço de parede, justo o do seu quarto onde ainda tinha pendurado o retrato do seu vovô cheio de poeira e cinzas. Chorava tanto que estava com dor nos olhinhos.

Alguns bombeiros chegaram para ajudar. Um soldado a viu no meio dos escombros e sem perguntar nada, sem dizer palavra alguma parece que conseguiu ler a tristeza nos olhos da menina que segurava o retrato do vovô que tinha retirado do que sobrou da parede e a abraçou carinhosamente.

O soldado conhecia os seus pais e  a sua família. Pelo menos uma coisa boa em meio a guerra. Um soldado bonzinho. Ele a colocou nos braços e a levou para casa dos seus avós num caminhão cheio de outros soldadinhos. Os avós moravam em uma cidade onde a guerra ainda não tinha chegado, mas já havia pânico também.

Na casa dos avós, a menina foi recebida com carinho e amor. Ouviram tudo o que ela contou e choraram junto com ela. Limparam a foto do vovô e a colocaram em cima da mesa da sala. Foi o que sobrou. Sempre sobra algo da guerra.

Da cabeça da menina não saía a imagem da bomba caindo sob a sua casa e matando todos os seus familiares e bichinhos. Quando crescesse seria presidenta daquele país e nunca mais deixaria haver guerras por ali.

A vida precisava continuar e ela depois de um bom banho foi descansar sentada entre o vovô e a vovó que tinham feito bolo de chocolate para ela, mas não quis comer. A única coisa que a menina queria era seus pais de volta, sua casa e seus bichinhos.

Inventou uma canção que não dizia nada com nada para afastar a tristeza. Aquela guerra era horrível, todas as guerras são horríveis. Matam inocentes.

Exercícios para o bom pensar.

1 – Como você acha que se sente uma pessoa que tem a sua casa bombardeada pela guerra?

2 – Que sentimento desperta numa pessoa que perde toda a família para a guerra?

3 – Você já se sentiu sozinho no mundo? Por quê?

4 – As guerras destroem tudo pela frente. O que elas fazem conosco por dentro?

5 – O que sobra da guerra quando ela acaba na vida de uma pessoa que perdeu tudo?

Desenhe você protegendo o que ama de um bombardeio de uma possível guerra no seu país.