A menina que perdeu o seu gatinho na guerra

Rosângela Trajano

Ela andava sozinha pelas ruas de Kiev na Ucrânia. Já tinham destruído a sua casa e matados os seus pais e avós. Não havia mais ninguém para cuidar daquela menina de olhos azuis com um gatinho nos braços de frente ao parque onde antes ela vinha brincar.

Perto dela tanta gente chorando e gritando ferida. As ambulâncias pareciam poucas para socorrer aquele tanto de gente que pedia ajuda. Enquanto foi dar água para uma velhinha caída na calçada soltou o seu gatinho. Veio um bombardeio e assustado o bichinho correu.

A menina correu atrás do gatinho, mas não o encontrou. Ele ficou assustado e fugiu. Ela começou a chorar. O gatinho era a única coisa que tinha. Como viveria sozinha naquele lugar em guerra?

Foi caminhando pelas ruas chamando pelo bichano, perguntando a um e outro se tinham visto um gatinho. Ninguém queria saber de gatos por ali, as pessoas só queriam se proteger. Quem lá daria atenção a um gato feioso, pensou a menina tristonha.

A quem pedir ajuda para achar o seu gatinho não sabia. Todos estavam muito apressados e preocupados com a guerra. Ela agora tinha duas preocupações: a guerra e o seu gatinho. Procurou por entre os escombros de uma escola, atrás dos restos de muros, dentro das latas de lixo e nada. Estava desesperada.

Uma mulher ao vê-la sozinha pelas ruas perguntou pelos seus pais e ela mentiu. Não era hora de falar a verdade senão correria o risco de nunca mais achar o seu gatinho feioso.

O fim do dia estava chegando e nem sinal do gatinho. A menina já tinha andado bastante e mexido em tudo quanto era lugar. Sentou-se no chão da praça destruída pelo inimigo, com frio e medo, mais medo de nunca mais ver o seu gatinho do que dos bombardeiros aéreos. A todo instante passava um avião e a todo instante via soldados correndo pra lá e pra cá.

De repente, viu um soldado vindo em sua direção com um gatinho nos braços. Era o seu gatinho. Ele estava todo sujo de poeira. Quis parar o soldado. Quis pedir o gatinho. Ele bem que miou ao vê-la, mas o soldado andava apressado e a menina assustada e com medo da metralhadora grande que ele carregava no ombro achou melhor deixar ele passar sem dizer nada.

Eles já estavam longe, e quando menos esperava, o gatinho deu um pulo dos braços do soldado e correu para junto dela. O soldado com cara de bravo veio atrás e perguntou-lhe muito seriamente

— É seu o gatinho?

— Sim! Eu o perdi pela manhã!

— Onde você mora?

— Eu não tenho mais casa. Não tenho mais nada. Só o gatinho.

O soldado abriu um sorriso leve e abraçou a menina contra o seu corpo. Ela pôde sentir a metralhadora se mexer e logo se afastou dele.

— Não tenha medo! Eu sou amigo!

— Quem não tem medo numa guerra?

— É verdade! Eu também tenho medo! Venha comigo! Vou levar você seu gatinho para um lugar seguro.

O soldado levou a menina para um abrigo de crianças e pediu para que eles cuidassem muito bem dela e do seu gatinho.

— Quando a guerra terminar eu volto para levar você comigo para casa!

— Que casa, moço?

— A minha casa! Você vai gostar!

— Eu vou esperar! Venha mesmo!

O soldado se foi apressado como sempre deixando a menina com uma esperança dentro do seu lindo coração. Era preciso agora rezar não para a guerra somente acabar, mas para que aquele soldado ficasse vivo até o seu fim e pudesse levá-la para uma casa de verdade onde se sentisse protegida.

Exercícios para o bom pensar.

1 – Como você se sentiu ao ler a história da menininha e do gatinho? Por quê?

2 – O que pode ser perdido na guerra além de um bichinho?

3 – Por que perdemos as coisas numa guerra?

4 – Quando procuramos nos proteger em um tumulto corremos o risco de esquecer alguma coisa. Isso já aconteceu com você? Conte mais detalhado.

5 – Como você acha que se sente uma criança sozinha em uma guerra? Pesquise na internet ou em livros.

6 – O que você perdeu em uma correria ou outra situação que muito amava? Detalhe.

Desenhe você procurando uma coisa que perdeu em uma situação de desespero.