Rosângela Trajano
Menino dos passarinhos
Ele morava no meio do mato
Sua maior diversão
Era pegar passarinhos
Com o seu alçapão.
O menino que pegava passarinhos
Pintava os bichinhos
E vendia na feira por um real
Um sibite pintado de azul
Virava um pássaro azulão
Esse ele vendia mais caro.
Vender passarinho não era brincadeira
Era coisa séria para aquele menino
Levava comida para casa
Ficava com alguns trocados.
Um dia veio alguém, não sei se malvado
Só sei que quebrou as gaiolas do menino
E os passarinhos nenhum foi embora
Se revoltaram e do canto não saíram.
O menino que vendia passarinhos
Até disse assim:
Voem, bichinhos, vão embora
Mas eles não foram não.
E o menino tristonho
Com os olhos fechados
E os ouvidos tapados
Sem gaiolas para levar
Sem passarinhos para vender
Sem dinheiro para comida comprar
Voltou para o seu lar
Com passarinhos acompanhando
Seus passinhos de desânimo.
De repente, um passarinho
Pousou no ombro esquerdo do menino
Ele abriu os olhos
Destapou os ouvidos
E viu que era conduzido por milhões de passarinhos
Abriu-se um risinho
Colheu-se um carinho
E lá se foi ele para casa sem um trocado no bolso
Com medo de ficar de castigo
Sem trazer comida aqui não fica.
Bateram a porta no seu rosto pequeno
Fez xixi no jardim e voltou a caminhar.
Os passarinhos fizeram cantoria
Piu, piu, piu, piu, piu, piu, piu,
Piu, piu, piu, piu, piu, piu, piu,
Piu, piu, piu, piu, piu, piu, piu,
Entendendo o canto dos passarinhos
O menino se deixou ir, foi levado
Levaram o menino para outro lugar
Onde o amor não castiga
E o desamor é vigiado.