O livro infantil e a criança

Rosângela Trajano *

O livro infantil tem uma importância fundamental no desenvolvimento do pensamento da criança. Ele faz a imaginação correr mundos criando um elo entre a realidade e fantasia. Os bons livros infantis não dizem tudo, a criança necessita pensar para descobrir o que está por trás de um gesto do personagem. Para fazer uma boa leitura é preciso ter em mãos bons livros, e a criança nesse aspecto é exigente para com as histórias. Não é coisa simples escrever para crianças, o livro infantil exige mais do que histórias com príncipes e princesas, heróis e heroínas.

Alguns pais não têm o cuidado de escolher um bom livro infantil para os seus filhos e acabam lhes dando qualquer tipo de leitura, o que muitas vezes não desperta a curiosidade, o encanto, o sonho. Nesse ponto, a imaginação é frustrada e a ideia daquilo que se conta num livro infantil mal escrito chegará à criança com um conceito deturpado das coisas. Os bons livros infantis são fontes de pensamentos investigativos por parte das crianças. E a curiosidade se expande através da leitura de livros que fazem do leitor um herói ou um príncipe por ocasião dando-lhe poder seja ele o da palavra, do gesto, do pensar, etc. O bom livro infantil ensina a criança a ler com prazer, a sentar-se em algum lugar e ficar horas e horas numa leitura. Quando criança li muitos livros, alguns bons que me fizeram pensar e outros que apenas acumularam coisas na minha cabeça e me fizeram sorrir. A arte de fazer a criança pensar é o que o livro infantil deve ter.

Não importa se o livro é grosso ou não. Há crianças que têm preguiça de ler de todo jeito, o que vai chamar a atenção para a continuação da leitura são os primeiros parágrafos que devem ter o cuidado de não achar que só o fato da criança ser uma criança ela não vai saber que estão querendo lhe enrolar. Os primeiros parágrafos devem explicar sobre o que trata a história, criar enlaces para os parágrafos seguintes de forma que a criança tenha sempre um motivo a mais para seguir em frente, ou seja, criando um novo pensamento a cada página virada. Os livros infantis estão nas prateleiras, mas como escolher o melhor livro infantil? Tarefa difícil para os pais. Sugiro que a criança seja levada às livrarias, bibliotecas, que ela mesma possa escolher os livros que deseja ler para a sua formação. A leitura se torna mais prazerosa quando nos identificamos com ela. Crianças são fontes de sabedoria e não depósitos de conhecimento.

Certa vez, escrevi uma história que não citei como o personagem morria, só dizia que ele morria e pronto, uma das meninas que ouvia a minha leitura criou a situação e outras crianças acompanharam seu pensamento cada uma com uma morte diferente. Isso nos mostra que a imaginação da criança deve ser respeitada e preservada quando se está escrevendo um livro infantil. Criemos nossos autores mirins que conversem com os personagens, com o narrador, que se sinta parte da história. A criança quando pergunta ela quer uma resposta, mas quando ela recebe a resposta deve está preparada para fazer dela retalhos e depois costurá-la com as suas próprias mãos. Esse tipo de situação pode ser criado no livro infantil e passado para o dia a dia da criança. Todo livro infantil que desperta uma curiosidade na criança pode ser considerado bom, desde que esta curiosidade não ultrapasse os limites da realidade. Pois é a partir da curiosidade que se constrói o pensamento de uma vida inteira.


* Rosângela Trajano é licenciada e bacharel em filosofia e mestra em literatura comparada.