A menininha Lia e o radinho de pilha
A menininha Lia e o radinho de pilha
Rosângela Trajano
Lia era uma menininha esperta que adorava futebol, mas não do jeito comum. Em vez de assistir na televisão, ela gostava de ouvir os jogos no radinho de pilha do seu avô, o velho e querido Seu Tonho.
Todo domingo, Lia corria para debaixo do grande cajueiro no quintal, onde o avô já a esperava com o radinho ligado. Ela se sentava na sombra fresca, abraçava os joelhos e ficava bem atenta à narração animada. O avô ria, balançando a cabeça.
— Menina, você gosta mais de ouvir do que de ver!
— No radinho é mais emocionante, vô! — respondia Lia, os olhinhos brilhando.
Os patos e as galinhas cisnavam pelo quintal, ciscando tranquilos, sem nem imaginar o que estava por vir.
Quando o jogo estava tenso, Lia mordia os lábios e apertava as mãos. E então, de repente, o narrador gritava animado:
— GOOOOOOL!
E Lia pulava de alegria!
— GOOOOOOL! — ela gritava, batendo palmas e rodopiando.
As galinhas, assustadas, saíam cacarejando de um lado para o outro. Os patos batiam as asas e corriam para o tanque. Seu Tonho caía na gargalhada.
— Ô, menina! Assim você espanta os bichos!
Mas Lia nem ligava. Ela pulava e comemorava como se estivesse no estádio.
E assim, domingo após domingo, Lia, o radinho e o cajueiro viviam momentos de pura emoção, com galinhas e patos como plateia surpresa.
E o vô Seu Tonho? Ele só ria, feliz em ver a netinha se encantar com a magia do futebol.
Os domingos de futebol eram os dias mais alegres para Lia. Ela já tinha até um ritual: corria descalça pelo quintal, pegava uma cadeira de madeira e se sentava bem encostada no tronco do cajueiro. O avô, sempre paciente, girava o botão do radinho até encontrar a estação certa.
— Tá ouvindo bem, minha filha? — ele perguntava, ajeitando a antena.
— Sim, vô! Pode deixar aí! — Lia respondia, já de olhos fechados, se concentrando na voz do narrador.
O jogo começava, e Lia acompanhava cada lance, torcendo baixinho. Mas quando seu time fazia um gol… ah, aí era aquela festa!
— GOOOOOOL! — Lia gritava, jogando os braços para cima.
As galinhas saíam batendo as asas, correndo em círculos. Os patos, coitadinhos, davam um salto e mergulhavam na água em um grande alvoroço. O galo do vizinho até cantava, assustado com a gritaria.
Seu Tonho ria tanto que até enxugava as lágrimas dos olhos.
— Lia, desse jeito qualquer dia esses bichos vão aprender a torcer junto com você!
— Tomara, vô! Assim eles podem comemorar comigo! — Lia brincava, dando um giro no quintal.
E não é que parecia mesmo que os bichos estavam aprendendo? Com o tempo, as galinhas já nem se assustavam tanto. Elas apenas davam um pulo e continuavam ciscando. Os patos sacudiam as penas, mas logo voltavam para a água. Parecia que até eles entendiam que domingo era dia de futebol e de muita alegria debaixo do cajueiro.
Uma vez, Seu Tonho resolveu testar:
— Vou colocar o radinho antes de você chegar, só pra ver o que acontece…
Ele ligou o radinho baixinho, e quando o narrador gritou "GOOOOOL", mesmo sem Lia por perto, as galinhas pularam e os patos bateram as asas.
Quando a menina chegou, o avô contou a história, e os dois riram até a barriga doer.
— Viu, vô? Eu disse que eles iam aprender a torcer!
E assim, domingo após domingo, Lia seguia com seu radinho, seu avô e sua torcida muito especial, vivendo a magia do futebol debaixo do cajueiro.
Rosângela Trajano
Enviado por Rosângela Trajano em 05/02/2025