Rosângela Trajano

O passeio que fiz hoje foi agradabilíssimo

Vi girassóis, crisântemos, lírios

Abelhas nas suas colméias

O céu estava límpido e era manhã

Uma manhã de outono quieta

Olhei tudo e encantei-me com os pássaros

Voando em praça pública no meio da multidão

Eu quis agarrar a liberdade daqueles pássaros

Trazê-la para mim, para dentro de mim

Porque sou escrava das minhas ansiedades

Da vontade de dizer não e ter vergonha

Tantas vezes eu quis dizer não

Nunca desisti dos meus sonhos

Saí para caminhar hoje à procura de algo

Não sei se de mim mesma ou se de um outro

Alguém que desconheço, mas que busco nas ruas

E eu nem sei por que procuro por pessoas desconhecidas

Talvez haja essa necessidade em mim de conhecer o outro

Mesmo sabendo que o outro pode ter espinhos ou perfume de rosas

Dei gritos no meio da multidão enquanto andava pelas ruas

Chamei por amigos que há anos não os vejo: Eli, Elô e Maria

Escrevi-me. Falar de mim não foi difícil. Escrevi-me em pedra bruta.

Saudades dos passeios ao Rio Guaíba, na minha Porto Alegre querida

Quando penso que meus sonhos estão fatigados das maratonas

Mas desistir não são meus planos de poeta triste

Nessa tristeza em que me escondo guardo a maldade alheia

As palavras estranhas ao meu ninho de pássaros frágeis

Alguém, um dia, me presenteou uma caixinha com palavras

Hoje escolhi uma delas e retirei a palavra esperança.