Tales no mundo da lua

Baseado na história do filósofo Tales de Mileto

Rosângela Trajano

Tales nasceu na cidade de Mileto. Era um menino muito inteligente. Dizia que quando crescesse seria um cientista. Mas Tales era motivo de risadas para todos na cidade. De tanto olhar para o céu vivia tropeçando nas pedras, batendo com a cabeça nas árvores, caindo em buracos e pisando em chicletes.

– Mãe, pra onde a gente vai quando morrer?

– Para o céu, Tales. Todos vamos para o céu.

– Mãe, eu não quero ir pra o céu.

– Que é isso menino?! Por que você não quer ir para o céu?

– Ora, ora, mamãe. O céu é muito alto. Eu tenho medo de cair lá de cima.

A  mãe  de  Tales,  Dona  Leopoldina,  ouvia  as conversas dele com carinho.  Ela  sabia   que  certas coisas que ele dizia não passavam de curiosidades de um menino daquela idade. Mas não era o que o povo da cidade pensava.

– Ei, Tales. Hoje vai chover? – Perguntava o barbeiro.

– Tales, você já conversou com a lua hoje? – Perguntava a vendedora de bananas.

Todos caçoavam de Tales. Mas ele não estava nem aí para o que diziam dele, e continuava investigando o Universo.

Ah! Tales também adorava matemática. Fazia contas com precisão. O dono da venda ficava aborrecido quando Tales estava por perto. Tales sabia somar, dividir, multiplicar e subtrair com uma facilidade enorme.

– Deu quinze, Dona Leopoldina. – Disse o vendedor.

– Quinze! Tudo isso?! Seu Gomes, o senhor está enganado. Quem já viu cinco mais cinco ser quinze? – Perguntou Tales, espantado.

– Fique quieto, menino. Conta é coisa pra gente grande. – Disse seu Gomes, bravo.

– Seu Gomes, cinco mais cinco são dez. – Tales, contente, levantou as duas mãos esticou bem os dez dedos e mostrou para o vendeiro.

– O que está acontecendo, Seu Gomes? Meu Tales nunca erra nas contas. – Disse Dona Leopoldina.

– Oh, Dona Leopoldina! Desculpe-me. É que eu me atrapalhei na conta. – Desculpou-se o vendeiro com uma cara zangada para Tales.

– Engraçado, Seu Gomes, o senhor vive se atrapalhando nas contas. Só que nunca perde um centavo sequer. – Dona Leopoldina levantou a cabeça, pegou a sacola de pães e saiu puxando Tales pela mão, meio brava.

Sempre que estava entre os amigos Tales nunca prestava atenção ao que falavam, seu pensamento e seus olhos estavam sempre voltados para o céu.

Numa noite de lua cheia, Tales sentou-se no chão e ficou lá, quietinho, querendo ver o coelhinho que as pessoas dizem que os apaixonados veem. Como acreditava na sua paixão por Rosinha, sua melhor amiga, imaginou que pudesse ver o tal coelhinho.

No outro dia, eis que Tales acordou com uma tremenda dor no pescoço. Mal podia mexê-lo.

– O que aconteceu, Tales? – Rosinha tomou um susto ao ver Tales com o pescoço todo duro.

– De tanto olhar para a lua ficou assim. – Lamentou-se a mãe passando a mão na cabeça de Tales.

– Tales? – Chamou Rosinha. Tales não respondeu. – Tales, você está me ouvindo? – Perguntou Rosinha cruzando os braços e mexendo o pé direito, aborrecida.

– Ele está assim desde ontem. Será que está doente? – Dona Leopoldina estava preocupada.

– Tales está no mundo da lua, Dona Leopoldina. Logo, logo ele volta ao normal. Já o vi assim outras vezes. – Rosinha se foi sem nem olhar para trás.

Tales parecia perdido nos seus pensamentos. Olhava para algum lugar, mas ninguém sabia para onde. Na verdade, olhava para dentro de si e viajava por mundos que só a sua imaginação podia criar.

Um dia, Tales espantou todos com a seguinte notícia:

– Atenção! Amanhã vai ter um eclipse. Meus estudos mostram isso.

Tales retirou da sua caixinha de madeira um monte de papel riscado. Mostrou a todos. Ninguém entendeu o que queriam dizer aqueles rabiscos, traços, números, fórmulas, desenhos da lua e do sol, das estrelas…era muita coisa!

– Impossível! Só um cientista seria capaz disso. Não um menino tão pequeno! – Falou um homenzinho espantado com o que viu e ouviu de Tales.

Ninguém acreditou no que disse Tales sobre o eclipse. Ao anoitecer do dia seguinte eis que a lua foi desaparecendo aos poucos, e uma escuridão tomou conta do mundo. Foi uma correria só. Gente gritando para todos os lados.

– Deus nos acuda, o mundo está se acabando!

– Salve-se quem puder!

– Seu Padre, me benza para eu não morrer com pecados!

– Meu Deus, me perdoe por ter vendido leite com água. Prometo que nunca mais faço isso!

– Corre o mundo está se acabando!

O eclipse acabou. O mundo não. A partir daquele dia, as pessoas começaram a acreditar mais em Tales. No entanto, foi só por uns dias, porque logo ele veio com uma conversa mais estranha ainda.

– Mãe, de onde vêm as coisas?

– Não sei, meu filho. Por que você quer saber disso?

– Como tudo começou?

– Não tenho a menor ideia, Tales.

– Mãe, as coisas devem iniciar em uma só coisa.

– Já disse que não sei. E acho melhor você parar com essa curiosidade por aqui. Não quero que fiquem sorrindo de você, novamente.

Tales não parou. Ele estava curioso. Colocou na cabeça que todas as coisas principiavam de um só lugar. Restava saber de onde. Era preciso investigar com cuidado. Pensou e pensou. Ele pensava em todos os lugares: em cima do telhado da casa, no caminho da escola, no banco da praça e à janela olhando a lua.

Um dia, ele foi para a margem do rio e ficou lá pensando em voz alta: – De onde será que vêm as coisas? – Olhou para a água como se estivesse investigando-a cautelosamente. Olhou novamente com mais cuidado. E deu um pulo de contentamento como se tivesse descoberto algo muito importante!

– É isso! É isso! Todas as coisas vêm da água!

E saiu correndo para casa. Queria contar a novidade para a sua mãe, depois para Rosinha e por último aos vizinhos que espalhariam aos quatro cantos do mundo!

– Mamãe! Mamãe! Descobri uma coisa importante! – Tales entrou espantado na cozinha!

– Aí vem o meu pequenino cientista. Diga-me o que você descobriu dessa vez.

– Descobri que tudo vem da água. Que a água é o início de todas as coisas.

– Ah! Tales, vai começar tudo de novo? A água é para bebermos, tomar banho, lavar a roupa e outras coisinhas mais.

– Por isso que ela é o início de todas as coisas.

– Não entendi. Quer me explicar melhor? – Pediu Dona Leopoldina curiosa.

– Mamãe, de onde vem o papel?

– Das árvores.

– E de onde vêm as árvores?

– Das sementes.

– E de onde vêm as sementes.

– Da Terra.

– A Terra é úmida, mamãe. E ela é úmida por causa da água. Logo todas as coisas vêm da água.

– Continuo confusa. – Dona Leopoldina coçou a cabeça.

– Mamãe, todas as coisas são úmidas: os microorganismos, as bactérias e as substâncias químicas, porque elas estão na Terra e ela é úmida.

– Por que não vai brincar com os seus amiguinhos, Tales? – Dona Leopoldina achou que o filho estava exagerando nos estudos.

– Mamãe, você tem que me ouvir. É importante para mim tudo isso.

– Pois fale, meu filósofo. Sou toda ouvidos.

– Tudo vem da água. O princípio de tudo está na água, mamãe. – Disse Tales com a voz firme e forte.

Quando o povo da cidade ficou sabendo da nova descoberta de Tales, ele não teve mais sossego.

– Tales, o parafuso vem da água?

– Tales, a vaca vem da água?

– Tales, eu vim da água?

– Tales, me dá um pouco dessa tua água que constrói tudo.

– Tales, cuidado para não se afogar num copo d´água.

E Tales respondia com a seguinte frase: quem achar que estou errado que me prove o contrário.

Todos sorriam de Tales, porém nunca conseguiram provar que ele estava enganado. Tales cresceu e tornou-se um cientista e filósofo. Ficou conhecido e famoso no mundo inteiro por seus estudos sobre a água como princípio de todas as coisas. Por muitos anos acreditou-se no filósofo da água, como assim ficou conhecido. E até hoje muitos acreditam no seu pensamento.

 

Exercícios para o bom pensar.

1 – O que é a natureza?

2 – O que é um filósofo?

3 – Por que as pessoas sorriam de Tales?

4 – Como Tales investigava as coisas?

5 – De onde vinha o saber de Tales?

6 – Por que as coisas têm um princípio?

7 – Por que Tales ficou conhecido como filósofo da natureza?

8 – Por que devemos preservar a natureza?

9 – Por que não devemos poluir os rios e mares?

10 – O que tem nos rios e mares que cabe dentro da gente?

Disserte sobre a origem das coisas, ou seja, de onde você acha que as coisas tiveram a sua origem e explique o motivo.