O HOMEM CORDIAL DE SÉRGIO BUARQUE DE HOLANDA EM RAÍZES DO BRASIL

Rosângela Trajano

Numa leitura mais detalhada da obra “Raízes do Brasil” identificamos que Sérgio Buarque busca em Max Weber a sua teoria para falar da formação do povo brasileiro na década de 1930. Mas, não é disso que vamos falar neste breve ensaio literário. Queremos nos deter ao que Buarque fala sobre ser cordial. Sim, a cordialidade que a cada dia tem se perdido na nossa sociedade e, principalmente, na nossa política.

Na Grécia Antiga, os filósofos preocuparam-se em conceituar a inteligência e, segundo Aristóteles só a possui quem é dotado de razão. O homem inteligente também é virtuoso. Aliás, ele só se torna inteligente a partir do uso das virtudes. Já para o filósofo Platão, o homem para tornar-se inteligente devia alcançar o mundo das ideias e sair da caverna. Pois bem, esses dois filósofos falam da inteligência como elemento essencial para governar os povos e nações. Mas, para ser inteligente é preciso ser virtuoso também e uma das virtudes mais belas é a bondade, a gentileza ou melhor a cordialidade.

Ser cordial parece coisa difícil para o homem brasileiro que teve formação machista desde os tempos do colonialismo. O nosso homem faz questão de ser grosso para com os demais e não se preocupa o que vão pensar dele. Nos eventos internacionais não sabe comportar-se, fala mal dos demais países, xinga e agride jornalistas. Isso não é de agora. Vem de há muitos anos. Não estou referindo-me a um homem apenas, mas a maioria dos governantes que o Brasil já teve. Um deles tentou ser cordial e foi chamado de “cachaceiro”.

Na ditadura militar, a falta de cordialidade foi maior ainda. Os militares querem impor uma moral aos civis que nem todos têm. Os civis são seus subalternos. Eles podem se comportar do jeito que quiserem, mas nós não. Nós devemos cumprir regras e normas numa sociedade que cobra o tempo todo que sejamos cordiais uns com os outros se quisermos ser atendidos no serviço público, sim porque há poucos servidores e os que lá estão vivem tão pressionados e estressados com o acúmulo de trabalho que não suportam grosserias. Os militares confundem disciplina com cordialidade.

Se formos comparar a cordialidade na questão de gênero e orientação sexual perceberemos que as mulheres e a comunidade LGBTQUI+ são mais cordiais e isso pode ocorrer por vários motivos. Essas pessoas por serem vulneráveis sentem-se amedrontadas na hora de reivindicarem os seus direitos e se não forem cordiais serão tachadas de ignorantes e estúpidas, serão humilhadas e desrespeitadas. Aprende-se na marra a ser cordial no Brasil quando se é vulnerável.

Essa falta de cordialidade do povo brasileiro tem origem na sua colonização quando os espanhóis e holandeses entraram em conflito com os portugueses e brigaram por várias décadas pelo domínio da terra brasileira. Durante muitos anos, o Brasil sofreu com a violência e Buarque deixa isso claro na sua obra. Quem convive com esse tipo de guerra por mais virtuoso que seja acaba sendo contaminado pelo derramamento de sangue e pelas intrigas que despertam inveja, ira, injustiça e tantos outros vícios.

É preciso cuidar das crianças para construirmos uma nova formação do povo brasileiro para que se torne mais cordial e respeite os demais povos ou, em breve, entraremos numa guerra de egos o que talvez seja mais grave do que uma guerra de armas.

Exercícios para o bom pensar.

1 – Como você vê a cordialidade?

2 – Por que devemos ser cordiais para com o outro?

3 – O que acontece quando somos cordiais?

4 – Por que estamos deixando de ser cordiais?

5 – Como nos tornar cordiais observando as atitudes dos outros?

6 – Em tempos de ódio e violência a cordialidade tem uma função especial. Qual?

7 – Quando você vê alguém cair na rua ou sofrer um acidente trata logo de filmar/fotografar ou ajuda a pessoa? Como você age em situações em que as pessoas precisam da sua cordialidade?

Desenhe você sendo cordial.