Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), censura na ditadura militar

A Era Vargas foi um momento de construção e definição do nacionalismo brasileiro, ou seja, o governo desejava imensamente com um cunho patriótico valorizar os elementos nacionais descartando tudo o que fosse estrangeiro, para isso ele buscou se fortalecer através de várias formas autoritárias e intransigentes para que esse patriotismo criasse raízes nos mais diversos estados e atendesse às suas necessidades. Vargas sabia bem que construir um nacionalismo poderia manipular o pensamento dos brasileiros induzindo-os a consumirem e produzirem apenas coisas boas à nossa pátria. Seu empenho em decidir o que permanecia na nossa cultura e o que seria extinguido era grande no Estado Novo.  Um empenho em definir um nacionalismo forte e criterioso para mostrar aos brasileiros o rumo que o Brasil tomava dali para frente em busca do que era ser brasileiro, ou seja, criar um “espírito brasileiro” para uma alma de um país que tentava sobreviver a uma ditadura imposta por esse mesmo governo.

O Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP) surge em 1939 para reorganizar outros aparelhos já existentes desde 1931. O primeiro foi o DOP (Departamento Oficial de Propaganda), em 1934 e substituído pelo DPDC (Departamento de Propaganda e Difusão Cultural) e logo em seguida, no Estado Novo, é substituído pelo DIP. O DIP tinha como principal função disseminar as ideias de Getúlio Vargas, governo ditatorial iniciado em 1937. Sendo assim, o DIP detinha o controle de vários meios de comunicação, tais como: o cinema, o teatro, o turismo, a imprensa e aquele que era mais próximo da população que era o rádio, meio de comunicação naquela época que chegava à casa de praticamente todos os brasileiros. Todos esses meios de comunicação sofreram fortes represálias e censuras. Os artistas foram perseguidos. Vários compositores foram censurados. Foi uma verdadeira perseguição a tudo o que não era favorável ao governo Vargas, qualquer coisa que parecesse fora do ideal nacionalista ou que por acaso criticasse o governo era censurado. A partir do DIP surgiram as DEIPS que eram ramificações desse órgão nos Estados que mantinham o monopólio nacional das divulgações e controle da cultura.

O governo Vargas via no Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), o seu principal aliado para construção de um nacionalismo forte e divulgação das suas ideias diante dos brasileiros, a construção da imagem de um bom governo, preocupado com os ideais nacionalistas e com tudo o que pertencia ao Brasil, era isso o que Vargas pretendia passar com o DIP, uma imagem de governo bom e solidário com as causas nacionalistas em contradição a negação da nossa cultura e arte. O que para Vargas representava nacionalismo era tudo o que estivesse ligado à ditadura, nada e nem ninguém podia se colocar contra um governo que conversava secretamente com os nazistas e entregava prisioneiros para a polícia nazista como fez com Olga Benário, esposa de Carlos Prestes.

Um governo que deu um golpe e se iniciou de maneira autoritária tirando do poder Júlio Prestes, governo eleito pelo pleito de 1930, e se mantém no poder até 1937 precisava formar a sua imagem diante da população para que essa não se revoltasse contra o mesmo e passasse a admirar e a exaltar cada vez mais os seus atos de mandos e desmandos. Neste período muitas pessoas foram perseguidas, presas, interrogadas, exiladas por não atenderem aos objetivos desse governo que de forma ditatorial exigia uma imprensa à mercê dos seus ideais, nenhum meio de comunicação podia produzir notícias contra o governo e sim fazer dele um governo ideal para o Brasil. Era isso que Vargas desejava e com o DIP alcançou censurando a imprensa e a cultura, perseguindo artistas e criando um clima de medo e apreensão no país em torno das nossas artes.

Um dos meios de comunicação mais utilizados naquela época pelos brasileiros era o rádio, grande ferramenta de comunicação que chegava aos lugares mais longínquos do Brasil e era por ele que as notícias e informações do governo eram transmitidas de forma mais ampla, exaltando as ações de Vargas, procurando fazer da sua imagem um bom governo que servia à nação de forma humilde e preocupada com o seu futuro. Foi neste momento e cenário que o DIP criou o programa a “Hora do Brasil”, programa de rádio transmitido nacionalmente responsável por informar os programas do governo Vargas. Até hoje o programa a “Hora do Brasil” é transmitido pelo rádio a partir das 19 horas, hora de Brasília, em todo o país com duração de uma hora. O programa não mudou muito, se antes divulgava as ideias do Estado Novo hoje divulga as ideias de um país que se diz democrático, mas que a todo instante quer censurar a imprensa e as artes em geral.

O DIP era responsável por todo o conteúdo midiático nacional que seria reproduzido em território nacional. Conteúdos esses de quaisquer formas: impressos, espetáculos ou músicas. Tudo precisava ter o aval do DIP. E muitos livros, jornais impressos, músicas foram censuradas neste período porque tinham ideias contrárias ao Estado Novo. Foi uma verdadeira destruição da nossa cultura, artistas precisaram reinventar-se para atender as exigências do governo e não serem perseguidos ou presos. Muitos desses sofreram perseguições e se exilaram em outras países por não aceitarem o que lhes era imposto de forma ditatorial, podemos citar como exemplo o caso do cantor Caetano Veloso que saiu do Brasil devido as letras das suas canções não atenderem aos ideais da ditadura militar nos anos 60 que apesar de ter o DIP extinto continuou com a perseguição aos artistas e jornalistas. Temos outros artistas da música popular brasileira como Gilberto Gil também.

A direção geral do DIP estava nas mãos de Lourival Fontes, diretor do antigo órgão. O DIP divulgava com fervor todas as notícias do governo Vargas, seus ministérios e até mesmo a sua família. Era preciso mostrar que o governo estava bem e cumpria com os anseios da população. O nacionalismo tão fervescente por Vargas perseguia os seus jornalistas e artistas, o que mais parecia uma utopia. Como ser nacionalista e amar o Brasil se não podemos ter as nossas próprias ideias e fazer arte como desejamos, era isso o que perguntavam os artistas e jornalistas da época. À divisão de teatro e cinema do DIP cabiam as funções de censurar previamente e autorizar ou interditar todos os filmes e espetáculos nacionais, publicar no Diário Oficial o que foi censurado, o julgamento, as partes censuradas. Era uma verdadeira perseguição às artes. Poucos ficavam de fora dessa censura, os que conseguiam driblar o DIP ainda assim tinham partes de suas obras censuradas ou solicitadas modificações.

Apesar de toda a censura, os artistas encontravam um jeito de se expressar. Mesmo atemorizados publicavam livros, peças de teatro e letras de canções que conseguiam passar pelo DIP. Nas entrelinhas, registravam o desprezo pelos ideais de Vargas, mas o órgão não conseguia identificar as suas metáforas tão bem elaboradas. 

Assim, mesmo depois de extinto o DIP e encerrada a Era Vargas continuou uma política de perseguição e censura aos artistas e intelectuais nos anos 60, sendo esses os mais prejudicados: Caetano Veloso, Elis Regina, Gal Costa, Glauber Rocha, Antônio Calado e tantos outros artistas e jornalistas conseguiram continuar produzindo as suas obras. Alguns desses, foram censurados e exilados, mas lutaram incansavelmente pela liberdade de expressão o que muitas vezes lhes foi negada.

O DIP buscou silenciar todos os nossos artistas e jornalistas que lutavam em prol da liberdade de expressão, hoje garantida pela Constituição Federal de 1988. Foi um silenciamento diante da cultura e das artes imposto no Brasil por um governo que acreditava nos ideais de um nacionalismo feito com torturas e perseguições a todos aqueles que estivessem do lado contrário.

Exercícios para o bom pensar.

1 – Com base na censura relatada no texto descreva o que você acha do silenciamento da imprensa.

2 – É possível silenciar uma nação?

3 – Que consequências podem ocasionar o silenciamento de uma sociedade?

4 – Por que as pessoas precisam falar?

5 – Como as pessoas se manifestam atualmente?

6 – As redes sociais são importantes meios de manifestações populares. O que você acha sobre elas?

7 – Por que a censura no Brasil não deve voltar nunca mais?

8 – O que o DIP deixou de aprendizagem para os brasileiros?

9 – Como você vê a liberdade de expressão atualmente no Brasil?

10 – O Brasil está se calando ou falando mais?

Disserte sobre o que você pensa da liberdade de expressão nas redes sociais.