A sacoleira passava todo dia na porta da minha casa oferecendo de tudo um pouco. De longe, quando a via, já me escondia pra não passar vergonha de dizer que não tinha dinheiro. Certo dia, ela chegou silenciosa. Eu mexi pra lá e pra cá nas coisas dela. Me empolguei com as bugigangas. Fui experimentando colares, pulseiras, maquiagem, batom. No final, disse que não tinha dinheiro. Ela ficou brava e com raiva de mim jogou as bugigangas na sacola e disse que se soubesse que eu era tão pobre não tinha perdido tempo. Ainda me perguntou se eu não tinha nada que pudesse fazer negócio. A vizinha fofoqueira lá de fora gritou “tudo o que ela tem sou eu que dou um pouco de comida pra ela todo dia”. Passei a maior vergonha diante da sacoleira.