Rosângela Trajano

Aquele menino de nariz grande e pés pequenos vinha de um país com uma cultura bastante bonita. Uma gente cheia de alegria e acolhedora que foi praticamente destruída pelos seus colonizadores que lhes trouxeram outras culturas.

A cultura é tudo aquilo que envolve os costumes, hábitos e tradições dos povos onde moramos.

Muitas vezes num só lugar existem várias culturas misturadas, resultado da miscigenação de muitos povos. No país daquele menino havia negros, brancos, índios e aquele povo todo acabou se misturando uns com os outros herdando muitos costumes e tradições diferentes.

No lugar onde o menino morava, por exemplo, quando o sol ia dormir as pessoas faziam uma grande ciranda e cantavam músicas para embalar o seu sono todas as noites. Tinham outros costumes também, mas esse era o que o menino mais gostava.

Quando precisou ir morar em outro país disseram que o menino ia perder a sua cultura e ele ficou triste, mas um outro menino inteligente disse para ele que aquilo não era verdade. Por mais tempo e distância que fiquemos do nosso lugar de origem sempre restarão resíduos dos nossos costumes e tradições.

O menino ficou sabendo da aculturação e logo assustou-se. Disseram, também, para ele que a aculturação era a perda da cultura original e o recebimento da nova cultura do local onde ele passaria a morar. O menino ficou intrigado, preocupado, ansioso. Não queria perder os seus costumes e tradições.

Foi falar com o seu amiguinho inteligente e logo ficou sabendo que as pessoas fazem uso errado do termo aculturação.  Na verdade, quando uma pessoa muda de lugar ela é constituída por traços formais daquela nova cultura, mas não perde a sua identidade, ou seja, a sua cultura de origem.

A aculturação é uma noção substancialidade de cultura, como se fosse algo que se adquire e que se pode também perder e isso não é verdade, disse o amiguinho inteligente ao menino.

E falou mais ainda com o seu jeito inteligente de quem sabe de quase tudo: sempre vai restar alguma coisa mesmo você sendo aculturado, alguns traços culturais originários sempre resistirão, alguns resíduos ou vestígios culturais serão levados com você pelo resto da sua vida.

Sendo assim, o menino começou a brincar com os novos amigos do lugar e aprendeu muitas coisas legais dos seus costumes e tradições, mas nunca esqueceu da sua ciranda quando o sol ia dormir e abria a sua janela para vê-lo desaparecendo por entre as montanhas. Claro que nunca esqueceria a sua cultura originária, como o costume de comer cuscuz com leite ou de riscar um sol no chão para a chuva não cair.