O homem cordial
Rosângela Trajano
Baseado no conceito de homem cordial de Sérgio Buarque de Holanda
— Vovó, me conta como era o homem cordial de Sérgio Buarque de Holanda, por gentileza.
— Conto, sim. Deixe só eu terminar de dar um pontinho nessa sua meia furada.
— Enquanto isso eu vou comer um pedacinho do seu bolo de ovos. Posso?
— Pode! Cuidado para não deixar pedaços caírem pelo chão. As baratas adoram bolos!
Depois de uns cinco minutos, a vovó senta o seu netinho no colo e começa a contar a seguinte história:
— A partir da década de 30 alguns teóricos começaram a estudar o homem brasileiro. Como ele se caracteriza? Do que gosta? Como age? Como se sente? Perguntas como essas começaram a surgir naquela época.
Antes disso, o homem brasileiro era visto como exótico pelos demais, devido a sua miscigenação. Fomos formados pela mistura de vários povos e os nossos costumes e tradições eram motivos de risos para alguns homens lá fora.
De repente, um estudioso chamado Sérgio Buarque de Holanda na sua obra Raízes do Brasil trouxe um conceito sobre o homem brasileiro que foi fortemente abraçado pelos demais estudiosos.
Sérgio criou o conceito de homem cordial para definir o homem brasileiro. Mas o que seria mesmo esse homem cordial? Como ele se comportava diante dos demais homens?
Para Sérgio, o homem cordial brasileiro não conseguia viver sozinho, precisava do coletivo além de ser virtuoso, hospitaleiro e gentil.
O homem cordial brasileiro recebia bem todas as pessoas que aqui chegavam dando-lhes comida, roupa lavada e dormida.
O seu arrebatamento emocional e generosidade eram características da formação de um legado da vida rural e colonial brasileira.
Para definir melhor o conceito do homem cordial brasileiro ele seria mais ou menos assim: sabe aquele pai que comandava tudo, que tinha o direito de vida e morte da sua família, aquele que escolhia o jovem com quem a filha deveria se casar, ou que dividiria a sua herança rural e etc? Seria um homem dominado pelo coração, ou seja, muito afável por um lado, mas, por outro, também muito impulsivo e por vezes até violento.
A rapidez com que o homem brasileiro passava do caráter afável para o agressivo era surpreendente e seria uma das suas fortes características.
A não distinção entre o público e o privado seria outra característica forte do homem cordial, ou seja, ele não sabia distinguir as esferas que necessitavam um caráter mais propício a negócios e menos amável àqueles com quem se buscava manter relações de trabalho.
Dizia-se que Sérgio Buarque de Holanda desejava que o homem cordial brasileiro desaparecesse aos poucos e no seu lugar nascesse um homem contemporâneo com um pensamento e sentimento mais propícios ao futuro da nação que se urbanizava e vivia a democracia.
— E aqui eu termino a minha história. Isso foi o que Sérgio Buarque de Holanda nos deixou de conceito do homem social brasileiro. Você entendeu bem?
— Entendi, sim! Muito obrigada, vovó! Agora me conta uma história de lobo mau para eu dormir.
— Conto! Feche os olhinhos que a vovó vai contar uma história bem bonita!
Exercícios para o bom pensar.
1 – O que era o homem cordial para Sérgio Buarque de Holanda?
2 – O que você entende por homem afável e gentil?
3 – Como são os homens contemporâneos, ou seja, da atualidade?
4 – O que mudou no homem brasileiro dos anos 30 para cá?
5 – Você acha que o homem cordial dos anos 30 saberia fazer bons negócios na atualidade? Por quê?
Desenhe o homem cordial de Sérgio Buarque de Holanda.