O chiclete e o beijo de boca
RosângelaTrajano

Dois jovens pegaram o mesmo ônibus para irem à escola. Na janela, sentado o rapaz. No corredor sentou-se a jovem.
– Quer um chiclete? – perguntou a moça.
– Quero um beijo de boca. Pode ser? – respondeu o rapaz.
Chegou o ponto de ônibus. O casal desceu. Ela com o chiclete ele sem o beijo. Estavam atrasados para aula, mas tinha suas desculpas. Ele trabalhou até às dezoito e trinta; ela perdeu a hora na manicure que pintou sua unha com a cor errada e teve que corrigir.
A professora já estava aplicando a prova. Era de matemática. Sem estudar o que fazer em uma prova. Tudo parece difícil. Ele assinou o nome. Ela nada fez.
– Quer um chiclete? – perguntou a moça.
– Quero um beijo de boca. Pode ser? – respondeu o rapaz.
A moça fez uma bola com o seu chiclete que estourou fazendo um barulho enorme.
A professora reclamou. A professora fechou a cara. Era prova de matemática.
Um aluno no fundo da sala soltou um pum. Todos taparam o nariz. Só a professora ficou quieta. Com a cara fechada.
Terminou o horário da prova. Mas ninguém queria entregá-la. A professora saiu de carteira em carteira recolhendo as folhas sem nada escrito.
Na carteira de um jovem que apenas tinha assinado o nome e nada mais ela falou:
– Quero um beijo de boca. Pode ser?
O jovem espantado começou a rir, deu gargalhadas, se jogou no chão todo sorridente.
– Pegue, professora, um chiclete.
E saiu dando beijos na boca em todas as garotas da sala, enquanto a professora mascando o chiclete, com as folhas nas mãos, beijava a esperança.

FILOSOFANDO

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