A menina e o caroço

Rosângela Trajano

A menina e o caroço

Era uma menina miudinha, pouquinha, daquelas que a gente diz: essa não vai viver muito.

De repente, apareceu dentro da barriga da menina um caroço.

– É caroço de que, mamãe?

– É somente um carocinho, filha.

– Vai virar árvore?

– Não, não vai. Esse não. Esse a gente vai dar um jeito nele.

A menina carregava aquele caroço pra cima e pra baixo.

Aos poucos ele começou a pesar muito.

Aos poucos ele começou a doer bastante.

Era preciso arrancar aquele caroço de dentro da barriga da menina.

De tão pouquinha já se podia perceber o caroço redondo na sua barriguinha crescendo, quase maior do que ela.

Veio um médico bonzinho e prometeu a menina que arrancaria o caroço.

– Vai nascer outro?

– Huummm… digamos que pode ser que sim e pode ser que não.

– Ishi! Ou é sim ou é não!

– Sim, sim.. quer dizer… não, não! Ah! Eu não sei, menininha! Esses caroços são muito esquisitos!

O médico retirou o caroço da barriga da menina enquanto ela dormia.

– Nem doeu!

– Nunca dói!

Mas para que nenhum caroço voltasse a nascer nunca mais o médico disse que era preciso tomar uns medicamentos que podiam fazer o cabelo cair, causar vômitos e tonturas.

– Eu tomo qualquer remédio, doutor, pra ficar boa logo!

E a menina passou a tomar um medicamento que era colocado nas suas veias fininhas quinzenalmente.

Quem já era miudinha, pouquinha, uma coisinha de nada, quase desapareceu.

Mas não havia vômito, tontura ou queda de cabelo que arrancasse a coragem daquela menina. Ela sabia que ia se curar. Dentro dela algo dizia que ainda ia ser a maior menina do mundo!

Assim, a menina passou a andar com um gato na cabeça para cobrir a careca.

Todos acharam engraçada a sua ideia e riram com ela. Um riso que desejava boa sorte.

Quando parou de tomar todos os remédios, depois de alguns anos, a menina voltou ao médico e ele falou mais ou menos assim:

– Pronto, menininha! Não vai mais nascer caroço nenhum em você! Pode ir brincar.

Então, a menina correu de encontro ao sol toda sorridente e nunca mais quis saber de gatos na sua cabeça.