A poesia alfabetizando crianças

Rosângela Trajano *

A poesia tem a sua importância em sala de aula. Ela educa, diverte e dá imaginação. Eu não sei o motivo dos professores não utilizarem a poesia em sala de aula. Também não sei o por quê das editoras não gostarem de publicar livros de poesias para crianças. Tome como exemplo a poesia abaixo:

Eu não sei o que

Esse X metido

Está fazendo

Dentro da minha

Xícara

Só sei que ele

É x de xícara.

A poesia acima mostra como se ensinar a escrever corretamente. O meu propósito com o contar poesias é fazer os alunos saberem o que estão lendo e escrevendo. Tenho um aluno muito inteligente, ele consegue expor idéias belíssimas nas poesias visuais, porém escreve mal. A sua ortografia é muito ruim. Este é um caso particular, mas tenho outros piores. Com a poesia pretendo fazer com que ele comece a ver como se escreve as palavras, para isso quero brincar com as palavras contando poesias e pedindo para ele escrever poesias, o que chamo de redação com frases curtas. A poesia é o retrato da palavra que nunca envelhece, pois tem mil faces numa só.

Pensando na dificuldade que algumas crianças têm para aprenderem a ler e escrever, comecei a fazer poesias brincando com as letras do alfabeto. A rima ajudou as crianças a aprenderem com mais facilidade. Nesse caso, eu precisei trabalhar a poesia com rima e versos curtos para facilitar o aprendizado. Não foi fácil. Como não trabalho alfabetizando crianças pedi para uma colega utilizar as minhas poesias em sua sala de aula, o resultado foi muito bom. Não se pode esperar que um trabalho inicial venha a ser um sucesso de imediato, mas o resultado foi o esperado. Cada dia ela lia uma poesia para a sua turma, pedia para eles fazerem desenhos que começassem com a letra referida na poesia. Um exemplo prático explicará melhor o que quero dizer. A poesia abaixo:

P de papai

Passa e vai

P de papai

Nunca cai

P de pato

Quer ter

Um retrato.

Esta foi uma das poesias trabalhada em sala de aula pela minha colega. A letra “P”. Nós tivemos mais uma ideia: musicamos as poesias para as crianças assimilarem com maior facilidade. Os exercícios eram feitos da seguinte forma: elas desenhavam objetos que tinham ou começavam com a letra “P”. Algumas desenhavam o que vinha à mente e nós aproveitamos estes desenhos para outras atividades, embora a maioria desenhasse corretamente. Depois do desenho se seguia a aprendizagem da escrita da palavra. Teve uma que desenhou um paralelepípedo. Para ela foi fácil desenhar a palavra, mas não sabia nem como pronunciá-la e levou um certo tempo para aprender a escrevê-la. Aprendeu, sim. Depois de algumas atividades.

Os livros didáticos trazem aqui e acolá uma ou outra poesia. Os professores nunca trabalham poesias para alfabetizar. Eles nem imaginam que três versos rimados são mais fáceis de absorver do que cinco ou sei palavras soltas. A boa poesia traz versos coloridos e passinhos infantis querendo agarrar o que está próximo para brincar de aprender. A criança espera por você, professor, pela sua poesia.


* Rosângela Trajano é licenciada e bacharel em filosofia e mestra em literatura comparada.